quarta-feira, 22 de junho de 2011

Permita-se.

Aquela dor mexeu comigo. Não era uma dor física. Era pior. Era dor no coração, dor forte de tristeza intensa. E levante a mão quem acha que esta não é a pior dor do mundo.

Não era tristeza no coração por falta de amor. Amor, graças a Deus e aos meus amigos maravilhosos, tenho de sobra. Carrego comigo só amor puro, verdadeiro, sincero, honesto, que demonstra sem vergonha, que assume sem medo.

Não era tristeza por falta de algo material que eu quisesse. Por mais que isto não deva ser prioridade na vida de ninguém, há muitas coisas que precisamos impreterivelmente para a nossa sobrevivência. Mas não, não era nada disso.

Era uma tristeza forte, que me fazia chorar incontrolavelmente. Sem saber o por que.

Ao invés de me irritar com este sentimento desconhecido, deixei-o fluir. Permiti que ele adentrasse no coraçãozinho que já estava despedaçado.

Aos poucos ele foi tomando conta dos meus músculos, tensionando-os. Passou para a cabeça, apertou meus olhos, esquentou minhas mãos. Deixou minhas pernas fracas, meus braços doloridos. Em poucos minutos o corpo todo estava inteiro tomado por uma horrível tensão. Mas o que isso tudo queria me dizer?

Que eu precisava ficar mais comigo. Que eu precisava chorar mais. Que eu precisava valorizar mais as minhas dores. Que eu precisava aceitar que uma rocha também tem farelinhos, também é formada por pequenos pedacinhos, assim como eu me sentia naquele momento... Um farelinho de um todo que eu já não suportava mais.

Aos poucos, deixei esse sentimento fazer seu trabalho, permiti que ele me trouxesse todo este aprendizado, convoquei as abençoadas lágrimas e pedi para que terminassem a limpeza espiritual que havia feito. Me senti muito próxima de Deus e do universo que conspira ao meu favor, mesmo que, quase sempre, a gente pense o contrário.

Me permiti chorar. Me permiti gritar de raiva, de ódio, de tristeza profunda. E aos poucos tudo foi passando, a tranquilidade voltando, os músculos descontraindo, o corpo esquentando, e a cabeça foi ficando leve.

Romper um ciclo antes do seu término faz com que uma lacuna fique aberta em nossas vidas. Precisamos permitir inclusive que ciclos ruins terminem com a naturalidade que lhe é peculiar.

E então, renovada, abri a cortina e fui absolutamente presenteada pelos céus com um final de tarde cor-de-rosa. Do jeito que eu amo. Afinal de contas, a cor que meu dia tem é decorrente das minhas escolhas. Poderia ter deixado-o absolutamente negro quando aquele sentimento bateu a minha porta. Mas não.

Assim como as nuvens negras vieram, permiti que trouxessem a tempestade. Tinha a certeza de que em seguida o sol viria para esquentar o coração e trazer alegria novamente, enfim.